quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Crônica

Na chuva com Vinícius

Era uma chuva de não acabar, estava voltando da universidade, desci do ônibus e corri para dentro do shopping, já pensando até quando iria ter que esperar até a chuva passar e eu poder ir andando até a minha casa. Entrei e sentei em um banco perto de um senhor que tocava piano e resolvi aproveitar o som que ele fazia, fiquei certo tempo até que lembrei que o dia não tava tão fácil assim e eu deveria enfrentar uma chuva lá fora. Levantei e sai andando, mas sem me desprender das músicas, graças ao sistema de som do shopping poderia se ouvir as canções em qualquer ponto.

Chegando quase na saída, começou a ser tocada uma música que eu já tinha escutado muitas vezes, “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes e um dos versos daquela canção me chamou a atenção mais de que todos os outros, parecia até a primeira vez que o escutava. “Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver, à espera de viver ao lado teu por toda a minha vida”. Quando eu olhei para frente estava minha amiga Carol. Carol você aqui? Esperando a chuva passar? Foi o que eu devo ter falado, não lembro direito. É que esse dia faz parte de 2006 e não dar para lembrar tudo bem certinho.

Mas quando vi Carol, comecei a repetir feito um papagaio: escuta isso, que lindo Carol! “Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver, à espera de viver ao lado teu por toda a minha vida”. Como é que alguém escreve um negócio desses, Carol? É que eu deveria está amando alguém, por isso tanta flores e cores nos versos, mas sem deixar de considerar que estamos falando de Vinícius de Moraes.

Depois de algum tempo, de amores idos e vindos e de tão belas canções, penso que os versos de Vinícius tomaram outro rumo para mim. Nada de “Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver, à espera de viver ao lado teu por toda a minha vida”, ao pé da letra, porque isso só é bonito em versos de canções de amor, na vida real não cabe muito bem. Deve ser por isso que alguns tipos de arte são tão especiais, porque não são feitas para vida. Se o poeta sentiu exatamente isso ao escrever cada palavra, penso que ele não se prendeu por tanto tempo a esse sentimento, acho que se ele viveu algo parecido, foi em um tempo suficiente, eterno, pelo menos enquanto durou e deixou tudo no plano da poesia. É só ver a vida de Vinícius e o quanto de amores ele viveu. Naquela noite no shopping não deu para pensar isso tudo, hoje sim foi um bom dia, dia de sol, dessa vez eu não tinha uma chuva para enfrentar.